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quinta-feira, 24 de abril de 2014

HISTÓRIA de UMA FLOR - Matilde Rosa Araújo

  História de uma flor

A flor vermelha, desde que tivera a cor que o sol lhe havia dado, começara breve a vida,
a sua verdadeira vida ligada à terra.
E em vida sorriu. Vida breve de flor que em breve iria morrer.
Mas continuaria.
(…)
Pela mão de uma criança, filha dos homens, separou-se da terra, partiu.
A mãe recebeu a flor da mão do filho e sorriu:
— Sabes que esta flor tem milhões de irmãos? – perguntou-lhe.
— Ela vivia tão só, no charco dos sapos… - observou a criança.
— Onde estão eles, os irmãos?
— Vem ver…
E a mãe deu-lhe a mão direita muito suave e segura enquanto a esquerda prendia a flor.
E ambos caminhavam pelas ruas.
Nas ruas havia flores vermelhas por toda a parte. No peito das mulheres, dos homens, nos
olhos das crianças, nos canos silenciosos das espingardas.
Nem era uma guerra, nem uma festa.
Era o mundo de coração aberto.
O menino, espantado, olhava tudo e todos, e sua mãe.
O menino que fugira pela madrugada diferente para encontrar a flor solitária.
E viu que a mãe chorava.
De alegria.
E com sua mão de seda pura limpou-lhe as lágrimas transparentes.
Ambos haviam entendido a alegria única das flores cortadas. No peito de toda a gente.
E continuaram a caminhar pelas ruas húmidas de alegria.
Rios livres a correrem para o mar.
Numa esquina encontraram o pai, com uma flor ao peito. Abraçaram-se os três, sorrindo.
Como se abraçassem o mundo inteiro.
E continuaram a caminhar.
                              

                        Matilde Rosa Araújo, História de uma flor, Editorial Caminho, 2008 (texto com supressões)

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